segunda-feira, 2 de setembro de 2013

02 de Setembro

Chatos-vivos

O problema dos Zumbis de Amhitar é a sua inexistência – e esta frase [não isenta de mau humor], pronunciou-a [previsivelmente] o Subcomitê ateu amhitariano, em sua reunião de 25 de dezembro de 1934 [para afrontar, os membros se reuniam em festas religiosas]. Mais que uma falta de graça, pragueja tal lema uma falta de originalidade – afinal, seis décadas antes Aleksiei Rostov publicara folheto de título quase igual sobre o assunto.

Padre ortodoxo, o Pope Aleksiei [diante da hostilidade dos locais a um dominador estrangeiro russo] usava o grande tempo livre para vagar à noite pelos beiradas de uma vila de Navoiy que sequer sonhava o que fosse iluminação pública. [Detratores atribuíam essas caminhadas noturnas a um antigo crime que atormentava sua consciência, enquanto os românticos preferiam falar da lembrança de alguma princesa].
Inevitavelmente espíritos passaram a segui-lo. No começo Aleksiei deles tinha medo. Depois passou a se acostumar com sua companhia e finalmente a aborrecer-se com ela. Gemiam na hora errada, tentavam assustar sem sucesso e a repetição de suas histórias de afogamentos e facadas as tornou inócuas. Pior: quando o padre se recolhia, já perto da manhã, sempre algum zumbi chato aparecia para falar-lhe de pulos em lagos por amores não correspondidos.

Tanto por amor à ciência como [dizem] por vingança o Pope publicou seu folheto O problema dos Zumbis de Amhitar é sua Impertinência, o qual [surpreendentemente] não foi isento de  sucesso.

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