segunda-feira, 9 de setembro de 2013

09 de Setembro

O apaixonado dostoievskiano

Uma pesquisa [talvez] tão espúria quanto a redondez de seus números concluiu que a população de Amhitar se dividia em 30% de assassinos caridosos, 25% de prostitutas de coração de ouro, 20% de jovens nobres obcecados por fazer o bem na vida, 15% de mocinhas malucas capazes de fugir por um amor louco e os restantes 10% de pessoas normais, sendo esta última cifra um tanto duvidosa.

Foi ela publicada na Gazeta de Amhitar no dia de hoje em 1882 e objetivava criticar a influência [para o autor excessiva] da literatura russa sobre a cultura amhitariana.

Para o [anônimo] autor, as maluloucuras dos personagens de Dostoievski e Tolstoi faziam o país se encher de tabernas, estas se encherem de rapazes amalucados, estes à procura de grandes feitos a fazer [e também de garrafas de vodca, para grande peso para o balanço de pagamentos nacional, pois Amhitar não produzia sequer uma gota]. Pior ainda [diz o talvez excessivamente apaixonado articulista] essa proliferação de estudantes embriagados de amor pela humanidade e também de álcool, e a igual multiplicação de mocinhas capazes de renegar até a quarta geração da família por um amor louco podia levar à proliferação dos assassinatos e das fugas.

Concluiu que nada mais restava para Amhitar [e para o mundo] que a paixão, a paixão embriagadora e aterradora, capaz de tudo amassar com sua presença – e se descobriu que até ele, articulista, se encharcara da maluquice literária da época.

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