Uma pesquisa [talvez]
tão espúria quanto a redondez de seus números concluiu que a população de Amhitar
se dividia em 30% de assassinos caridosos, 25% de prostitutas de coração de
ouro, 20% de jovens nobres obcecados por fazer o bem na vida, 15% de mocinhas
malucas capazes de fugir por um amor louco e os restantes 10% de pessoas
normais, sendo esta última cifra um tanto duvidosa.
Foi ela
publicada na Gazeta de Amhitar no dia
de hoje em 1882 e objetivava criticar a influência [para o autor excessiva] da
literatura russa sobre a cultura amhitariana.
Para o [anônimo]
autor, as maluloucuras dos personagens de Dostoievski e Tolstoi faziam o país
se encher de tabernas, estas se encherem de rapazes amalucados, estes à procura
de grandes feitos a fazer [e também de garrafas de vodca, para grande peso para
o balanço de pagamentos nacional, pois Amhitar não produzia sequer uma gota]. Pior
ainda [diz o talvez excessivamente apaixonado articulista] essa proliferação de
estudantes embriagados de amor pela humanidade e também de álcool, e a igual
multiplicação de mocinhas capazes de renegar até a quarta geração da família
por um amor louco podia levar à proliferação dos assassinatos e das fugas.
Concluiu que
nada mais restava para Amhitar [e para o mundo] que a paixão, a paixão embriagadora e aterradora, capaz de tudo amassar com
sua presença – e se descobriu que até ele, articulista, se encharcara da maluquice
literária da época.
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