quarta-feira, 4 de setembro de 2013

04 de Setembro

Falso

O Da Falsificação como Gênero Literário surpreende primeiro por não ser literário: trata-se de filme, cuja estreia em dezessete cineclubes se deu [surpreendentemente] na vizinha [e não muito amistosa] República do Turcomenistão, para ser exato na sua capital Ashkabad, hoje em 1951.

Seu enredo revela a segunda surpresa: o filho de um milionário recebe um jornal como herança. Resolve então trabalhar numa fábrica e quase é engolido por uma gigantesca roda de engrenagem dentada. É o tempo da Guerra Civil Americana e uma frívola herdeira de fazendeiro apaixona-se por ele num amor louco. Essa misturada logo mostrou a mais de um cinéfilo esperto que o filme não o era, e sim uma colagem de pedaços de celuloide do Cidadão Kane, Tempos Modernos e E o Vento Levou [junto com pequenos trechos de filmagem caseira na qual ao fundo se podiam ver camelos numa cena que presumivelmente se passava no centro de Baltimore].

A terceira [e talvez magna] surpresa deu-a o próprio diretor. Longe de ser um semi-adolescente revoltado quase que ex-officio, Nozimjon Utkirbek contava com boas quatro décadas de poemas não publicados e pedaços de celuloide [além da inevitável fama de velho maluco].

Não surpreendentemente, seu neto Utkirbek Lennon depois também decidiu que a vida é séria demais para ser levada como se deve. Quanto ao velhinho, o pessoal da cultura hacker hoje o incensa como pioneiro, embora a indústria cultural [não surpreendentemente] o qualifique de Velho Plagiador.

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