O Da Falsificação como Gênero Literário surpreende primeiro por não
ser literário: trata-se de filme, cuja estreia em dezessete cineclubes se deu [surpreendentemente]
na vizinha [e não muito amistosa] República do Turcomenistão, para ser exato na
sua capital Ashkabad, hoje em 1951.
Seu enredo revela a segunda
surpresa: o filho de um milionário recebe um jornal como herança. Resolve então
trabalhar numa fábrica e quase é engolido por uma gigantesca roda de engrenagem
dentada. É o tempo da Guerra Civil Americana e uma frívola herdeira de
fazendeiro apaixona-se por ele num amor louco. Essa misturada logo mostrou a
mais de um cinéfilo esperto que o filme não o era, e sim uma colagem de pedaços
de celuloide do Cidadão Kane, Tempos Modernos e E o Vento Levou [junto com pequenos trechos de filmagem caseira na
qual ao fundo se podiam ver camelos numa cena que presumivelmente se passava no
centro de Baltimore].
A terceira [e talvez magna]
surpresa deu-a o próprio diretor. Longe de ser um semi-adolescente revoltado
quase que ex-officio, Nozimjon Utkirbek
contava com boas quatro décadas de poemas não publicados e pedaços de celuloide
[além da inevitável fama de velho maluco].
Não surpreendentemente, seu neto Utkirbek
Lennon depois também decidiu que a vida é séria demais para ser levada como se
deve. Quanto ao velhinho, o pessoal da cultura hacker hoje o incensa como pioneiro, embora a indústria cultural [não
surpreendentemente] o qualifique de Velho
Plagiador.
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