No dia em que
completou 35 anos [o que aconteceu exatamente hoje no ano de 1501 dos hereges] o
tintureiro Charos Zafar se embrenhou em uma floresta densa e úmida perto da
cidade santa de Shmaerkaent. Topou com três porcos-espinhos [um deles com
atitude de poucos amigos] e [pulando de medo] encontrou um garoto chamado Akmal
Danyior e as semelhanças com a Divina Comédia
de certo poeta florentino por aí param. [De fato o ridículo das tentativas
nacionalistas de afirmar que o famoso livro foi plagiado de Amhitar esbarram no
fato óbvio de que o congênere italiano data de uns quase dois séculos antes da
aventura de Charos].
Para começar,
Dante não era, obviamente, tintureiro. O guia de Dante, o poeta romano Virgílio,
era mais velho que seu pupilo, enquanto Akmal pouco ultrapassava os catorze. O
poeta italiano começa sua aventura perto da cidade santa de Jerusalém, enquanto
a capital amhitariana [os testemunhos são unânimes] pouco tem de santidade.
A maior
distinção entre a aventura dantiana e a amhitariana no entanto é que, enquanto
a primeira consiste numa diversificada descida a diversos tipos e matizes
infernais, o afundamento de Charos se repete na mesma paisagem, com os mesmo pássaros
negros [que em dois minutos já perdem a novidade] e os mesmos gemidos [que em
pouco não comovem mais ninguém].
O inferno amhitariano
é só um grande buraco, e a monotonia é a sua grande punição. O que talvez o
torne mais infernal que o outro.
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