terça-feira, 10 de setembro de 2013

10 de Setembro

O Inferno nacional

No dia em que completou 35 anos [o que aconteceu exatamente hoje no ano de 1501 dos hereges] o tintureiro Charos Zafar se embrenhou em uma floresta densa e úmida perto da cidade santa de Shmaerkaent. Topou com três porcos-espinhos [um deles com atitude de poucos amigos] e [pulando de medo] encontrou um garoto chamado Akmal Danyior e as semelhanças com a Divina Comédia de certo poeta florentino por aí param. [De fato o ridículo das tentativas nacionalistas de afirmar que o famoso livro foi plagiado de Amhitar esbarram no fato óbvio de que o congênere italiano data de uns quase dois séculos antes da aventura de Charos].

Para começar, Dante não era, obviamente, tintureiro. O guia de Dante, o poeta romano Virgílio, era mais velho que seu pupilo, enquanto Akmal pouco ultrapassava os catorze. O poeta italiano começa sua aventura perto da cidade santa de Jerusalém, enquanto a capital amhitariana [os testemunhos são unânimes] pouco tem de santidade.

A maior distinção entre a aventura dantiana e a amhitariana no entanto é que, enquanto a primeira consiste numa diversificada descida a diversos tipos e matizes infernais, o afundamento de Charos se repete na mesma paisagem, com os mesmo pássaros negros [que em dois minutos já perdem a novidade] e os mesmos gemidos [que em pouco não comovem mais ninguém].

O inferno amhitariano é só um grande buraco, e a monotonia é a sua grande punição. O que talvez o torne mais infernal que o outro.

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