A tese da inexistência da cidade
da cidade-sonho de Qarshi foi arrebatadoramente refutada. Mas não o foi [como
seria de se esperar] por algum rato de biblioteca manejando alguma tese doutoral
e sim por banais [porém muito mais efetivas] decisões do Subcomitê de Diversões e Entretenimentos Socialmente Úteis e não
Socialmente Úteis do Partido, o qual decidiu, em modorrenta e empoeirada
tarde de hoje em 1951 instalar por lá estúdios de cinema, a Ruliúde amhitariana.
[O modorrenta e empeirada talvez explique por que o primeiro surto de
cinema amhitariano foi o Western (celebrado
a 18 de agosto e imitado, é claro, mas ainda assim bangue-bangue) no qual sobram
os duelos em tardes exatamente assim].
Dizem os revisionistas históricos
que Qarshi [a cidade] sempre foi um sonho, e para provar sua [discutível] assertiva
empilham manuscritos de andarilhos dos séculos II ou XVII, e o fato de nenhum
ser sustentado em cacos de porcelana ou tijolos velhos de arqueólogos não os
impede, é claro, de bradá-las.
E sua principal tese não vem do
chão mas da doce poetisa Iroshka Maruf, a qual [em um raro poema na qual falava
de algo que não sua família, seu gato e seu amante imaginário] escreveu que
As melhores cidades / como os melhores amores / são aquelas que não
existem.
Eu sonho com Qarshi / cidade-do-meu-sonho / que foi e será / sempre.
e que como todo bom poema serve
de argumento, sem importância a essa bobice que denominam realidade.
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