sábado, 5 de outubro de 2013

5 de Outubro

Tema do traidor, só

19 agentes da Jaghon [a polícia política] queimaram hoje [em 1959], começando às 19 horas e 19 minutos, os 1.900 exemplares já impressos da Biografia do Falso Renegado Nasserit Kamola e essas coincidências não deixaram de excitar interpretações místicas, já que Nasserit morreu com 19 anos e 19 dias, ninguém sabe se suicidado.

O livro [conhecido deste então sob o dramático nome de Biografia Proibida] relata a vida do homem que a história considerou como o avesso do herói nacional Donyhor al-Temurbek [a grandeza do segundo contrastando com  a baixeza do primeiro]. A obra principia [desafiadoramente] com uma frase do herói: Olhei-me no espelho, e vi lá vi Nasserit.

Nasserit passou para a história como traidor. E como todo do gênero [Judas a Jesus, Brutus a César e até Calabar a certo longínquo país inexistente] fez o que era do script: fingiu-se amigo do herói e o vendeu.
O livro [de autor compreensivelmente anônimo] afirma que foram os próprios tempos [em si traidores] que fizeram Nasserit. O lado patriótico não era santo. Nem o Inimigo era demônio. Temurbek enjoava, tinha dores de barriga ao comer carne de porco e pensou por três vezes [o número é significativo] em passar para o inimigo, e não é certo que não tenha passado.

Certa derrota em pequena batalha precisava de um culpado. O lado patriota escolheu a ele.

O livro terminava com a frase A Verdade é uma criação dos mentirosos. O Partido tomou isso como algo pessoal e determinou a queima.

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