19 agentes da Jaghon [a polícia política] queimaram
hoje [em 1959], começando às 19 horas e 19 minutos, os 1.900 exemplares já
impressos da Biografia do Falso Renegado
Nasserit Kamola e essas coincidências não deixaram de excitar interpretações
místicas, já que Nasserit morreu com 19 anos e 19 dias, ninguém sabe se
suicidado.
O livro [conhecido deste então
sob o dramático nome de Biografia
Proibida] relata a vida do homem que a história considerou como o avesso do
herói nacional Donyhor al-Temurbek [a grandeza do segundo contrastando com a baixeza do primeiro]. A obra principia [desafiadoramente]
com uma frase do herói: Olhei-me no
espelho, e vi lá vi Nasserit.
Nasserit passou para a história
como traidor. E como todo do gênero [Judas a Jesus, Brutus a César e até
Calabar a certo longínquo país inexistente] fez o que era do script: fingiu-se amigo do herói e o
vendeu.
O livro [de autor compreensivelmente
anônimo] afirma que foram os próprios tempos [em si traidores] que fizeram Nasserit.
O lado patriótico não era santo. Nem o Inimigo era demônio. Temurbek enjoava,
tinha dores de barriga ao comer carne de porco e pensou por três vezes [o número
é significativo] em passar para o inimigo, e não é certo que não tenha passado.
Certa derrota em pequena batalha
precisava de um culpado. O lado patriota escolheu a ele.
O livro terminava com a frase A Verdade é uma criação dos mentirosos. O
Partido tomou isso como algo pessoal e determinou a queima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário