quinta-feira, 24 de outubro de 2013

24 de Outubro

Irreal Visita

Anos depois o Pravda de Moscou [com imparcialidade e delicadeza próximas do zero] estampou que fora Um Nada visitando outro Nada [sendo o segundo desses Nadas a terra amhitariana]. Os poucos nativos que viram [quase todos camareiras ou garçons] lembram apenas de cinco garotas [muito bonitas, reconhecem] jogando miolos de pão arredondados umas nas outras... e nas camareiras e garçons.

Passaram por Amhitar hoje em 1912 [e o fato de apenas passarem, de volta de uma viagem a Alma-Ata, não deixou de ferir o orgulho nacional].

Saiu em primeiro um oficial quase baixinho, de olheiras visíveis a metros. Atrás uma mulher cara-de-maluca e um menino cara-de-dar-pena, além de cinco garotas [o único vestígio de beleza no lugar].

Um mar de gente os aguardava na Estação Central – aguardava principalmente a Ele. Perguntavam-se: o que faz um Czar? O que fala um Czar? E a principal: como é um Czar?

Uma vaga de decepção percorreu – aquele bisonho era o Czar – e os demais sua Augusta Família.

Nicolau II [o bigode manchado de branco, depois de uma xícara de leite], se falou ninguém lembra. Sua mulher só tinha olhos para o menino, e o menino bocejava. Os cortesãos tremiam. O homenzinho espetou medalhas em peitos e voltou ao trem, depois de um café da manhã na Estação. [De tão pouco marcante, mesmo testemunhas oculares contestariam a ocorrência da visita]. Duas camareiras guardaram bolotinhas de pão jogadas pelas princesas – mesmo depois que estas foram fuziladas.

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