O Problema das Fronteiras de Amhitar não é sua indefinição mas sua
inexistência e esse dístico [não isento de cansada melancolia] encimava o relatório
que uma comissão mista colocou hoje em 1879 na mesa do General Konstantin
Petrovich Von Kaufmann [o todo-poderosíssimo comandante do exército de ocupação
russo].
De fato a maior parte do Relatório
[e que por isso não foi poupado de críticas por uma suposta incientificidade] se
refere a certo Zhorfaz Ladnyn, o qual [em tempo indefinido que varia desde o século
XIII até um mês antes do relatório] teria percorrido todas as fronteiras, seus
pés sobre a linha imaginária. Ao contrário do lendário andarilho Dasha Ulugbek
[do qual o não menos lendário Zhorfaz teria sido admirador] ele não teria sido
um jovem explodindo energia - as história de aldeia o pintam já idoso, barba
arrastando ao chão, cabeça quase sempre baixa não por desânimo mas por
preocupação de que seus pés nunca pisassem fora de uma linha que só ele
conseguia ver.
Dezessete comissões [e nove
esboços de tratado] tentaram [com sucesso variável mas sempre pouco] descobrir
como Zhorfaz achou o inachável, a fronteira. Explicações místicas [inspiração de
antepassados falecidos ou uma divina luz] têm sido propostas, rejeitas e de
novo aceitas. A ideia de que ele não sabia de nada, apenas pisava em qualquer
lugar e todos acreditavam [impressionados por sua aparência mística] tem sido
recorrente, e rejeitada por seu excessivo cinismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário