Por três séculos a data de hoje
fundamentou o calendário e a existência do Reino de Amhitar, e [possivelmente]
teria continuado a fazê-lo se não fossem quatro linhas escritas [em pergaminho
manchado de esgoto] por um soldado que na vida civil [para seu descrédito] era
limpador de latrinas.
Inevitavelmente a [ex] grande
data nacional envolve uma batalha. Compreensivelmente, do outro lado vinham os
inimigos Turkhmans [uma corrente
minoritária dizendo que eram Kazaks].
Apoteoticamente, o principal personagem consiste no herói Donyhor al-Temurbek,
dessa vez sob o nome de um de seus 999 [segundo algumas versões] avatares, o Condestável
Sarbinaz Dilshod. Este, antes de afundar-se na mortífera paliçada de 9999
inimigos, bradara a seus homens algumas palavras em [quase] incompreensível
dialeto Khazyr que apenas na data de
hoje em 1858 [exatos 319 anos após a batalha] foram traduzidas por um discípulo
da escola linguística de Abdullaeva Behruz. Falou Sarbinaz:
Não temam, homens, seguiremos vivos, de alguma forma. E se não
seguirmos, não faz muita diferença.
Os poderes da época [de todas as épocas
em Amhitar] tudo esperavam menos essa [quase] pós-moderna demonstração de
indiferença. As muitas tentativas de interpretar de maneira patriótica tal
frase caíram no oblívio, o mesmo acontecendo com a data. As [compreensíveis]
tentativas da Academia do Passado Inexistente
de resgatar suas comemorações têm esbarrado em sesquipedal [e algo melancólico]
fracasso.
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