sexta-feira, 18 de outubro de 2013

18 de Outubro

A ex-apoteose da pátria

Por três séculos a data de hoje fundamentou o calendário e a existência do Reino de Amhitar, e [possivelmente] teria continuado a fazê-lo se não fossem quatro linhas escritas [em pergaminho manchado de esgoto] por um soldado que na vida civil [para seu descrédito] era limpador de latrinas.

Inevitavelmente a [ex] grande data nacional envolve uma batalha. Compreensivelmente, do outro lado vinham os inimigos Turkhmans [uma corrente minoritária dizendo que eram Kazaks]. Apoteoticamente, o principal personagem consiste no herói Donyhor al-Temurbek, dessa vez sob o nome de um de seus 999 [segundo algumas versões] avatares, o Condestável Sarbinaz Dilshod. Este, antes de afundar-se na mortífera paliçada de 9999 inimigos, bradara a seus homens algumas palavras em [quase] incompreensível dialeto Khazyr que apenas na data de hoje em 1858 [exatos 319 anos após a batalha] foram traduzidas por um discípulo da escola linguística de Abdullaeva Behruz. Falou Sarbinaz:

Não temam, homens, seguiremos vivos, de alguma forma. E se não seguirmos, não faz muita diferença.

Os poderes da época [de todas as épocas em Amhitar] tudo esperavam menos essa [quase] pós-moderna demonstração de indiferença. As muitas tentativas de interpretar de maneira patriótica tal frase caíram no oblívio, o mesmo acontecendo com a data. As [compreensíveis] tentativas da Academia do Passado Inexistente de resgatar suas comemorações têm esbarrado em sesquipedal [e algo melancólico] fracasso.

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