A multidão invadiu hoje em 1991 a
sede da Jaghon [a polícia política amhitariana]
e não poucas decepções a espreitavam. [Vivia-se então a queda do regime e o
primeiro dos três únicos dias de democracia (ainda assim imperfeita) que se
seguiram].
A crença popular atribuía à
Jaghon todo aquele prédio [que com suas muitas portas sem guardas e flores nas
janelas tinha um tom irritantemente distinto do que se espera de uma organização
de repressão interna]. Na verdade todo o Ministério do Interior se amontoava no
prédio, com a Jaghon apertada entre o Escritório
de Fiscalização de Galinheiros e a Coordenação
para Prevenção de Urticárias e outras Afecções da Pele.
Arrebentados os fichários de aço
viu-se que a Temida possuía apenas 288 agentes, metade aposentada e um quarto
fazendo serviço burocrático. [Um rumor de que os verdadeiros arquivos tinham
sido escondidos se revelou desafortunadamente falso].
O que não significava que a Jaghon
não existia. A tese mais racional [e que por seu tom de anticlímax goza de pouca
popularidade] é que a polícia política vivia de sua fama – acreditava-se que
vigiava a todos – todos se sentiam vigiados – não se precisava de agentes para
vigiar a todos.
Alguns autores [não sem certo
patriotismo implícito] afirmam que isso fez da polícia amhitariana a melhor do
seu gênero no mundo [os estadunidenses compreensivelmente afirmam que é a CIA].
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