segunda-feira, 21 de outubro de 2013

21 de Outubro

Os espiões melhores

A multidão invadiu hoje em 1991 a sede da Jaghon [a polícia política amhitariana] e não poucas decepções a espreitavam. [Vivia-se então a queda do regime e o primeiro dos três únicos dias de democracia (ainda assim imperfeita) que se seguiram].

A crença popular atribuía à Jaghon todo aquele prédio [que com suas muitas portas sem guardas e flores nas janelas tinha um tom irritantemente distinto do que se espera de uma organização de repressão interna]. Na verdade todo o Ministério do Interior se amontoava no prédio, com a Jaghon apertada entre o Escritório de Fiscalização de Galinheiros e a Coordenação para Prevenção de Urticárias e outras Afecções da Pele.

Arrebentados os fichários de aço viu-se que a Temida possuía apenas 288 agentes, metade aposentada e um quarto fazendo serviço burocrático. [Um rumor de que os verdadeiros arquivos tinham sido escondidos se revelou desafortunadamente falso].

O que não significava que a Jaghon não existia. A tese mais racional [e que por seu tom de anticlímax goza de pouca popularidade] é que a polícia política vivia de sua fama – acreditava-se que vigiava a todos – todos se sentiam vigiados – não se precisava de agentes para vigiar a todos.

Alguns autores [não sem certo patriotismo implícito] afirmam que isso fez da polícia amhitariana a melhor do seu gênero no mundo [os estadunidenses compreensivelmente afirmam que é a CIA].

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