Dois dos três relatórios psiquiátricos
sobre o caso [sendo o terceiro um parcial plágio dos antecessores] denominaram
[talvez equivocadamente] o affair de O caso da Princesa Lera Danyar. [O equívoco
nasce de que a princesa foi apenas uma de suas participantes, e talvez nem
mesmo a mais destacada].
Datam seu início de hoje em 1888 quando
a jovem acordou dizendo-se estar princesa, mas não sê-lo – ontem ela seria
mucama, antes de ontem teria sido camponesa, amanhã esposa de médico, e depois tecelã
de ceroulas. [Uma semana depois a princesa deixou tal conversa esquisita. Aias
notaram que perdera o hábito de mordiscar o dedo mínimo].
A mesma conversa de ser uma
pessoa, sonhar ser diferente e depois ser aquilo que se sonhou espalhou-se pelo
país. A explicação dos médicos [quando a psiquiatria chegava com força] foi o
inevitável diagnóstico de histeria coletiva. [O fato de a suposta doença só
atacar moças dava força a tal percepção].
O terceiro relatório [nos seus
trechos originais] afirmou que não se tratava de uma epidemia mas de uma só garota,
ou ser. Sem controle, ele se encarnava [ou se transformava em avatares] em cada
uma das moças, precedendo cada mudança de um sonho. A presença de um ente [ou fenômeno]
descontrolado não deixa de suscitar interesse e arrepios. A Sociedade Médica
rejeitou tal hipótese e, questionada, a princesa disse não lembrar nada tal
semana, exceto da cor inebriante do sol, que, na sua recordação, era negra.
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