sábado, 19 de outubro de 2013

19 de Outubro

Os sonhos

Dois dos três relatórios psiquiátricos sobre o caso [sendo o terceiro um parcial plágio dos antecessores] denominaram [talvez equivocadamente] o affair de O caso da Princesa Lera Danyar. [O equívoco nasce de que a princesa foi apenas uma de suas participantes, e talvez nem mesmo a mais destacada].

Datam seu início de hoje em 1888 quando a jovem acordou dizendo-se estar princesa, mas não sê-lo – ontem ela seria mucama, antes de ontem teria sido camponesa, amanhã esposa de médico, e depois tecelã de ceroulas. [Uma semana depois a princesa deixou tal conversa esquisita. Aias notaram que perdera o hábito de mordiscar o dedo mínimo].

A mesma conversa de ser uma pessoa, sonhar ser diferente e depois ser aquilo que se sonhou espalhou-se pelo país. A explicação dos médicos [quando a psiquiatria chegava com força] foi o inevitável diagnóstico de histeria coletiva. [O fato de a suposta doença só atacar moças dava força a tal percepção].

O terceiro relatório [nos seus trechos originais] afirmou que não se tratava de uma epidemia mas de uma só garota, ou ser. Sem controle, ele se encarnava [ou se transformava em avatares] em cada uma das moças, precedendo cada mudança de um sonho. A presença de um ente [ou fenômeno] descontrolado não deixa de suscitar interesse e arrepios. A Sociedade Médica rejeitou tal hipótese e, questionada, a princesa disse não lembrar nada tal semana, exceto da cor inebriante do sol, que, na sua recordação, era negra.

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