Monsieur Charles Swann [cabelos louros, olhos azuis e gravata
borboleta] pisou com seus sapatos parisienses de camurça a piçarra amhitariana e
infelizmente o único papel que poderia documentar esse feito perdeu-se [dizem
três testemunhas de confiabilidade variada] hoje em 1923 num pequeno quarto em sobrado
do Boulevard Saint-Germain, quando
sobrinhas distantes de Marcel Proust [que havia pouco dera o passo para a
Eternidade] queimaram o oitavo volume da Busca
do Tempo Perdido. [Parece uma sina que escritores tenham sobrinhas distantes
que pipocam do nada para queimar parte de suas obras logo depois de sua morte].
Charles Swann [cansado de Paris,
cansado dos jogos de gato-e-rato (ou gato-e-sapato) que Odete fazia com ele] um
dia saiu da Gare de Montparnasse e [muitos trens depois] desceu na estação
central de Amhitar. Procurava exotismos e os encontrou: comeu guisado de Nujmiz, uma pequena barata com gosto de
frango frito; viu o sol através do pó do deserto, que o faz cor-de-rosa; atravessou
a pé o Syr-Daria, o único rio que em três quilômetros de largura permite que um
quase-bebê o atravesse sem se afogar, de tão raso.
No entanto a barata, o sol, o rio
e tudo lembravam a ela. Enviou-lhe telegrama e esperou uma resposta do tipo Amor da minha Vida, e esta seria a
certeza de que ela o amava, e poderia curtir as férias tranquilo.
Veio a mensagem Amor da minha Vida e isso o fez tremer
de pavor e correr de volta ao Sena, pois poderia perder tudo mas não Odete.
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