quinta-feira, 3 de outubro de 2013

3 de Outubro

O cavalheiro

Monsieur Charles Swann [cabelos louros, olhos azuis e gravata borboleta] pisou com seus sapatos parisienses de camurça a piçarra amhitariana e infelizmente o único papel que poderia documentar esse feito perdeu-se [dizem três testemunhas de confiabilidade variada] hoje em 1923 num pequeno quarto em sobrado do Boulevard Saint-Germain, quando sobrinhas distantes de Marcel Proust [que havia pouco dera o passo para a Eternidade] queimaram o oitavo volume da Busca do Tempo Perdido. [Parece uma sina que escritores tenham sobrinhas distantes que pipocam do nada para queimar parte de suas obras logo depois de sua morte].

Charles Swann [cansado de Paris, cansado dos jogos de gato-e-rato (ou gato-e-sapato) que Odete fazia com ele] um dia saiu da Gare de Montparnasse e [muitos trens depois] desceu na estação central de Amhitar. Procurava exotismos e os encontrou: comeu guisado de Nujmiz, uma pequena barata com gosto de frango frito; viu o sol através do pó do deserto, que o faz cor-de-rosa; atravessou a pé o Syr-Daria, o único rio que em três quilômetros de largura permite que um quase-bebê o atravesse sem se afogar, de tão raso.

No entanto a barata, o sol, o rio e tudo lembravam a ela. Enviou-lhe telegrama e esperou uma resposta do tipo Amor da minha Vida, e esta seria a certeza de que ela o amava, e poderia curtir as férias tranquilo.

Veio a mensagem Amor da minha Vida e isso o fez tremer de pavor e correr de volta ao Sena, pois poderia perder tudo mas não Odete.

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