O Destino quis [mas o Destino não
quer nada] que Raya Nozimjon não terminasse o Maior Filme da História da
Humanidade [epíteto que sem nenhuma vergonha e com não pequeno nacionalismo
apregoa-se em Amhitar ao seu incompleto Do
Começo ao Fim – Uma História].
A grandeza de Do Começo ao Fim não se deve a supostas
qualidades expressivas ou inovações estéticas [de resto de valia discutível em
uma arte cujo magno objetivo é ajudar o espectador a comer pipoca] porém a algo
mais lógico, o seu tamanho. Desde criança Raya quis fazer um filme, e um filme
no qual ele seria o único ator, ou o único ator de importância. Até aí nada
muito anormal.
Raya no entanto começou a se
filmar aos onze anos e não parou. Filmou-se aos onze, aos quarenta, aos vinte e
nove, sessenta e um. Superaria a grande limitação dos filmes biográficos, a
necessidade de contratar vários atores para o mesmo papel, pelo envelhecimento
das pessoas. Sua solução [ou excentricidade] lhe permitiria fazer a si mesmo
uma pergunta com cinquenta e dois e responder com dezenove.
Uma estúpida explosão numa fábrica
de cimento hoje em 1977 [na qual fora registrar tomadas] impediu o [já idoso]
cineasta de gravar as derradeiras cenas de sua película, cujo final [com não
pequeno realismo] ele previa para não muito longe. Restaram pilhas de latas de
fita, que, não montadas pelo autor, revelaram-se de pequena valia, apesar de
algumas tentativas para festivais de Cine de Arte [e para lamentação dos
patriotas].
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