quarta-feira, 30 de outubro de 2013

30 de Outubro

O Maior Filme

O Destino quis [mas o Destino não quer nada] que Raya Nozimjon não terminasse o Maior Filme da História da Humanidade [epíteto que sem nenhuma vergonha e com não pequeno nacionalismo apregoa-se em Amhitar ao seu incompleto Do Começo ao Fim – Uma História].

A grandeza de Do Começo ao Fim não se deve a supostas qualidades expressivas ou inovações estéticas [de resto de valia discutível em uma arte cujo magno objetivo é ajudar o espectador a comer pipoca] porém a algo mais lógico, o seu tamanho. Desde criança Raya quis fazer um filme, e um filme no qual ele seria o único ator, ou o único ator de importância. Até aí nada muito anormal.

Raya no entanto começou a se filmar aos onze anos e não parou. Filmou-se aos onze, aos quarenta, aos vinte e nove, sessenta e um. Superaria a grande limitação dos filmes biográficos, a necessidade de contratar vários atores para o mesmo papel, pelo envelhecimento das pessoas. Sua solução [ou excentricidade] lhe permitiria fazer a si mesmo uma pergunta com cinquenta e dois e responder com dezenove.

Uma estúpida explosão numa fábrica de cimento hoje em 1977 [na qual fora registrar tomadas] impediu o [já idoso] cineasta de gravar as derradeiras cenas de sua película, cujo final [com não pequeno realismo] ele previa para não muito longe. Restaram pilhas de latas de fita, que, não montadas pelo autor, revelaram-se de pequena valia, apesar de algumas tentativas para festivais de Cine de Arte [e para lamentação dos patriotas].

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